PERIODIZAÇÃO TÁCTICA


Periodização física x periodização tática

A sobrevida do preparador físico passa pelo esclarecimento dessas duas linhas de trabalho*
Wladimir Braga
"A verdade jamais é pura e raramente é simples." (Oscar Wilde)


Muito se fala, nos dias atuais, a respeito da periodização tática e na redução de espaço nas comissões técnicas para o preparador físico. Este mesmo autor que aqui vos escreve, em um dos artigos, destaca o fim dessa função. Na verdade, no fim da forma reduzida em que se encontra inserido esse profissional.
O que ocorre de fato é uma onda de admiradores da nova forma de pensar o futebol (periodização tática), em que os jovens profissionais, impulsionados pelo anseio de se tornarem sofisticados e atualizados, se jogam de cabeça numa metodologia de treinamento que vai muito mais além do que acontece no dia-a-dia de trabalho.
Na periodização tática, nada ou quase nada tem a ver com rendimento físico puro. Nesse conceito, tudo é dependente do modelo de jogo, organizado em princípios, sub-princípios e sub-princípios dos sub-princípios de jogo. Ainda podemos reforçar que o conceito de fadiga está totalmente agregado ao desenvolvimento de situações- problema envolvendo exigências cognitivas em que os aspectos psicológicos, físicos e táticos estão embutidos.
Enfim, podemos sugerir ou ainda definir que nessa linha de trabalho não há espaço para o preparador físico, decisivamente, salvo na sala de musculação, função esta que pode ser destinada, também, ao fisioterapeuta. Assim, no campo de trabalho, as questões motoras específicas da modalidade são destinadas ao treinador e auxiliares técnicos que, em perfeita sintonia, têm plena consciência do modelo de jogo (anteriormente mencionado) e trabalham apenas em função dele.
Pela periodização física, dentro dos vários modelos existentes (períodos, blocos, ciclos, etc.) e dos vários autores conhecidos (Verkoshansky, Matveev, Valdivielso, etc.), podemos definir como a forma de treinamento ou preparação em que os aspectos técnicos e táticos estão agregados ao treinamento físico.
Os componentes físicos são organizados em períodos para a obtenção de melhor desempenho em determinado momento da temporada, ou em blocos, buscando um nível de trabalho alto em grande parte do ano. 
Com isso, a figura do preparador físico é peça fundamental para a manutenção, aquisição de rendimento físico, recuperação física e principalmente no planejamento do trabalho. Mesmo no trabalho integrado com aspectos táticos e técnicos, a carga de trabalho respeita capacidades e intensidades físicas e seus objetivos.
Ainda sim, um treino tático de 11x11 (também conhecido como coletivo), mesmo considerando a carga cognitiva, esta última, ainda assim, caminha no mínimo ao lado com a carga física.
Considerando essas duas formas de se planejar, pensar e trabalhar o futebol, podemos compreender alguns pontos que são fundamentais ao se optar por uma delas:
ü       As duas formas são eficientes;
ü       O entendimento da linha de trabalho nas duas formas é fundamental;
ü       O preparador físico só existe realmente, de forma atuante, na periodização física;
ü       É importante entender a “cultura” esportiva das pessoas, países ou clube em que vai trabalhar, principalmente se for com categoria de base;
ü       O treinador em qualquer nível de treinamento é que irá definir se quer na sua comissão preparador físico ou auxiliar técnico (mesmo que o preparador físico o ajude também em questões técnicas e táticas);
ü       O objetivo do preparador físico e do auxiliar técnico é trabalhar em função do treinador, e não o contrário.
Continuando esse assunto, afirmo que o preparador físico continua “vivo”, não de forma descontextualizada, mas bem integrado às posições e pontos de vista do treinador, que é o chefe da comissão técnica que trabalha com os conteúdos técnicos e táticos agregados ao treino físico na planificação do desempenho.
Mas essa função acabou, com certeza, para os adeptos da periodização tática. Contudo, não acredito que uma das duas seja a melhor forma, mas sim que o melhor trabalho é aquele realizado em função das aspirações, pensamentos e metodologia utilizado pelo treinador.
A questão maior é que a periodização tática não é sustentada pelos trabalhos com jogos reduzidos ou mesmo treino físico com bola (como alguns acreditam, aliás, não há treino físico nessa forma), ela é justamente uma questão de entendimento de seus mecanismos e de uma compreensão profunda de como ocorrem as adaptações pelo treino sustentado no modelo de jogo.
Assim, não é aconselhável se aventurar por ela sem esse entendimento e, portanto, é melhor continuar com a outra linha em que a fragmentação pode facilitar o planejamento e o entendimento dos fatores.
Finalizo esse artigo aconselhando os jovens preparadores, treinadores e dirigentes a considerarem a última afirmação para que haja um entendimento único em seus respectivos clubes e comissões.
*ARTIGO PUBLICADO E EXTRAIDO NO SITE UNIVERSIDADE DO FUTEBOL.




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Quem são os melhores profissionais do futebol

Ainda em 2011, e no Brasil, ouvimos as mesmas discussões sobre a origem dos melhores profissionais:professores de Educação Física ou ex-atletas? É lamentável que até hoje se busca definir a respeito desta infeliz discussão. Mas vamos acabar logo com isto antes que me perguntem, MAIS UMA VEZ, de onde vêm os melhores profissionais do futebol.
Qualquer vaga no mercado de trabalho é ganha por quem se preparou melhor para buscá-la, é claro que existe o talento individual e a preparação é aspecto básico para quem quer as melhores ofertas de emprego. Assim matamos aquela coisa de ex-atleta ou professor de Educação Física e vamos para o ponto que quero chegar:
O cara acabou de jogar ontem e quem disse que hoje ele tá pronto pra assumir o comando de uma equipe de futebol. O dirigente no mínimo deve ter um QI de alface para contratar um cara desses. Tem até clube no Brasil que se utiliza da imagem do ex-ídolo, mas quem trabalha é o auxiliar-técnico.Este é o nível do nosso futebol.
Agora, como tem professoreco de Educação Física se achando, só porquê conhece o ciclo de Krebs e as fórmulas da Biomecânica com se isso fosse ganhar jogo. Querem classificar e escalar atletas por números e esquecem da básica função tática desempenhada e perfil do atleta.
Com isso tudo, pra mim fica claro que agora faltou um aspecto que qualifica um treinador, ou preparador físico e até mesmo dirigentes de futebol:
                               CATEGORIAS DE BASE

Esta evidente que os melhores profissionais e que militam no futebol profissional, hoje em dia, passaram pelas categorias de base. Se aprimoraram teoricamente enquanto exerciam funções práticas e agora estão preparados para as diversas situações que o jogo pode oferecer. Em termos de Brasil, está questão está bem definida.
Mais do que treinadores, o que me preocupa são os dirigentes esportivos serem tão mal preparados para exercerem suas funções, claro que existem os bons profissionais que conseguem conduzir um clube de maneira homogênia e eficaz. Mas se observarem bem, a maioria dos bons também passou pela base.


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PERIODIZAÇÃO TÁTICA E FUTEBOL

“Aspecto particular da programação, que se relaciona
com uma distribuição no tempo, de forma regular, dos
comportamentos tácticos de jogo, individuais e
colectivos, assim como, a subjacente e progressiva
adaptação do jogador e da equipa a nível técnico, físico,
cognitivo e psicológico”.
(MOURINHO, 2001)

A definição acima dada pelo treinador português José Mourinho sobre o seu conceito para a periodização contempla o que para ele são os quatro aspectos fundamentais que o treinamento deve abranger de uma forma indissociável. Defende que toda sessão de treino deva ser realizada com bola de forma que o atleta pense no jogo. Para Carvalhal (2003) a primeira preocupação nessa periodização é o jogo, com ênfase em treinos situacionais e em situações de jogo, com o treino físico (ou da dominante física) inserido no mesmo.

Essa forma de periodizar é contrária aos modelos tradicionais, em que as prioridades do treino são outras; em que os aspectos físicos, técnicos, táticos e psicológicos possuem sessões particulares de trabalho, sendo em alguns momentos “integrados” em treinamentos físico-técnicos ou técnico-táticos que apesar da presença da bola não possuem como objetivo central a melhora da qualidade do jogo.
Considerando como epicentro do jogo o aspecto tático, a Periodização Tática (PT) citada pelos treinadores acima tem como referência o Modelo de Jogo Adotado (MJA) e, com isso, os outros aspectos devem estar presentes sempre nas sessões de treinos, pois sem eles o jogo em alta qualidade torna-se fora do alcance. A tática é pensada como aspecto central da construção do treino, de forma que as outras capacidades sejam desenvolvidas por “arrasto”, de forma contextualizada e identificada com a matriz de jogo proposta.
Para isso nas sessões de treino são desenvolvidos exercícios que construam e potencializem a forma de jogar exacerbando algumas situações (princípio metodológico das propensões) que o treinador eleja como prioridade naquela sessão.
Dentro da PT não faz sentido um mesociclo apoiado em microciclos que tenham em sua estrutura perspectivas praticamente idênticas pautadas ou na variação de volumes de carga, ou de prioridades físicas, ou nas pendências fisiológicas. Na perspectiva do MJA, o microciclo segue uma progressão complexa relacionada ao processo e compreensão da lógica do jogo e ao modelo de jogo a se jogar.
A Periodização Tática emerge, na prática competitiva (principalmente em Portugal nesse momento), como uma nova proposta de periodização para os jogos coletivos, respeitando suas características – e nesse caso aprofundando nas particularidades e complexidades do futebol. Surge como alternativa para a periodização tradicional que têm, em grande parte de seus idealizadores, origem em esportes individuais ou com um curto período competitivo. Parte do pressuposto de que esportes coletivos, como o futebol nesse caso, com longos períodos de competição necessitam de regularidade competitiva, não tendo nos “picos de forma” esse objetivo atingido. Os picos do Modelo de Jogo tornam-se as metas a serem buscadas e que, pelos constantes processos de construção do mesmo proporciona um desenvolvimento contínuo.
Para pesquisadores e profissionais da Educação Física, PT e MJA não são nenhuma novidade, longe disso. Autores clássicos estudados em boas faculdades de Educação Física no Brasil propõem discussões nessa perspectiva há mais de 20 anos. A novidade talvez seja vê-la realmente na prática desportiva do futebol de alto nível.
A PT mostra uma preocupação com a qualidade do jogo e rompe com conceitos cartesianos fincados em nossa sociedade. Seus conceitos, idéias e perspectivas passaram agora pelos portões das universidades, rumo a batalha contra os achismos que ainda imperam no futebol (ou por tradicionalismos ou pela falta de conhecimento científico).
Que vençam a batalha!
Referências Bibliográficas
Carvalhal, C. (2003), “Periodização táctica. A coerência entre o exercício de treino e o modelo de jogo adotado” Documento de apoio das II Jornadas técnicas de futebol da U.T.A.D
Mourinho, J. (2001), “Programação e periodização do treino em futebol” in palestra realizada na ESEL, no âmbito da disciplina de POAEF.